Entramos no tempo da Quaresma, um tempo forte na Igreja, tempo de preparação para a Páscoa do Ressuscitado, onde somos chamados a propósitos e obras verdadeiras de conversão.
Assim meditávamos na quarta feira de cinzas na primeira leitura essas palavras: “agora, diz o Senhor, voltai para mim com todo o vosso coração, com jejuns, lagrimas e gemidos; rasgai o coração e não as vestes; e voltai para o Senhor vosso Deus; Ele é benigno e compassivo, paciente e cheio de misericórdia” (Jl 2, 12).
A Quaresma é um itinerário que nos conduzirá ao Tríduo Pascal, trata-se do momento favorável para um caminho de verdadeira conversão. Vivemos nesses quarenta dias um tempo de graça, onde através da oração, do jejum e da esmola exercitamos as obras de misericórdia.
Rasgamos nossos corações diante do Senhor, através do arrependimento de nossos pecados, voltamos para nosso Deus como o filho prodigo: “Pai, pequei contra Ti e contra os céus e não mereço ser chamado seu filho”. O Senhor é compassivo e misericordioso, e no Seu Filho, morto em expiação pelos nossos pecados, nos acolhe de braços abertos. Ele não quer a morte do pecador, mas coloca todas as graças necessárias em nosso caminho para que nos salvemos. Cabe a nós fazer esse retorno para Deus, para sua casa, para os seus braços. Para esse retorno, uma boa confissão sacramental será necessária, acompanhada de um bom exame de consciência. O mundo atual tem um mal: a falta de consciência do pecado. Nessa Quaresma façamos a experiência do filho pródigo e entendamos que na casa do Pai encontramos nossa verdadeira identidade, somos filhos amados e Ele não desiste de nós, nos espera e está pronto a nos perdoar.
Nesse itinerário quaresmal, voltemo-nos para Deus através da oração, buscando na palavra um diálogo de amor e confiança. Voltemo-nos para nós mesmos, revendo nosso interior, nossas escolhas erradas e reconhecendo nossa verdadeira identidade, somos pó da terra, mas um pó amado por Deus. Nossa verdadeira identidade: somos filhos e herdeiros da mesa e do banquete eterno do Pai. Voltemo-nos para a dignidade de nossos irmãos e de todo o criado. A Campanha da fraternidade desse ano nos coloca diante do nosso irmão, como o Bom samaritano: “Viu, sentiu compaixão e cuidou dele” (Lc 10, 33-34).
A Quaresma nos convida a olhar para o alto com a oração, que nos liberta de uma vida horizontal demais. E depois, nos chama a olhar para o outro, com a caridade que nos liberta da vaidade do ter, e de colocar nos bens materiais nossa segurança. Enfim, nos convida a olhar para nosso interior pelo jejum, que nos liberta do apego as coisas. Esse tempo forte, seja para nós um caminho de conversão e retorno a uma fidelidade a Deus que nos libertou da escravidão e nos deu vida nova no Seu Filho Jesus Cristo, Senhor Ressuscitado.
Por Pe. Carlos Eduardo de Souza Roque - Pároco