O nascimento de Jesus
Em Lc 2,1-20 é retratado o nascimento de Jesus em Belém. Maria “…envolveu-o com faixas e reclinou-o numa manjedoura, porque não havia lugar para eles na sala” (Lc 2,6-7). O prólogo de São João afirma que: “Veio para o que era seu, e os seus não o receberam” (Jo 1,11). Deste modo, é possível estabelecer um paralelo entre os dois versículos e concluir que Jesus não faz parte dos ambientes considerados importantes pelo mundo.
Maria Santíssima colocou o recém-nascido numa manjedoura (cf. Lc 2,7), deixando claro que Jesus nasceu num estábulo, ambiente inadequado para o nascimento de uma criança. São Pedro Julião Eymard relaciona o fato de Jesus ser colocado na manjedoura – local onde é colocado o alimento para os animais com a Eucaristia – presença real de Jesus nas espécies sacramentais do Pão e do Vinho: “Vem de longe a revelação da Eucaristia feita por Jesus. É em Belém – ‘a morada do pão’ – Domus Panis – que nasce. É sobre a palha que repousa e esta parece sustentar na verdade a espiga do trigo verdadeiro.”[1]
Maria “deu à luz o seu filho primogênito” (Lc 2,7), Jesus é aquele que antecede toda criatura, é o princípio e o fim de toda a nova criação. As primeiras testemunhas do nascimento de Jesus, exceto Maria e José, são os pastores (cf. Lc 2,8-9). Os pastores representam os pobres de Israel, isto é, os destinatários primeiros do amor de Deus.
“Maria, contudo, conservava cuidadosamente todos esses acontecimentos e os meditava em seu coração” (Lc 2,19). Ela guarda essas coisas e as medita no seu coração como ponto que a iniciará na comunidade de fé pós-pascal, algo mais notável do que simplesmente comprovar que Maria documenta suas memórias, não é apenas uma fonte de recordações. Ela guardava a Palavra e empregava suas forças para compreendê-la profundamente. Maria é o modelo do discípulo que ouve com profundidade a Palavra e não superficialmente. Esse tema é retomado em Lc 2,51: “Sua mãe conservava a lembrança de todos esses fatos em seu coração.” Essa repetição conclui as narrações da infância como forma de evidenciar a continuidade do gesto de Maria na perseverança do trabalho da fé.
Após o nascimento de Jesus, o evangelista salienta dois fatos, com a finalidade de destacar a obediência de seus pais. O primeiro, Lc 2,21, corresponde à circuncisão e a atribuição do nome a criança oito dias após o nascimento, sendo que a identificação através do nome é a realização do pedido do anjo feito a Maria. O segundo, Lc 2,22, é a apresentação do menino Jesus no templo, ocasião em que seus pais se purificam, evidenciando o fato de José e Maria estarem cumprindo a lei de Moisés.
[1] EYMARD, São Pedro Julião. A Divina Eucaristia. São Paulo: Palavra e Prece, 2007. p. 36.
Fonte: BIO - Boletim Informativo de OsascoPor Pe. Luiz Rogério Gemi - Vigário Paroquial da Catedral Santo Antônio