Laudato Si’
Deus seja louvado também pelo dom do Papa Francisco à Igreja
Que diferença faz uma Carta Encíclica entre tantos outros textos, estudos e publicações sobre um assunto tão discutido como é o tema da Ecologia. Faz muita diferença, com certeza. E na pressa da primeira leitura, eu posso citar três razões: A primeira por ser uma Encíclica, depois por ser do Papa Francisco, e a terceira por invocar a força e atualidade que tem São Francisco de Assis, o patrono da Ecologia. Explico:
Uma Encíclica é a palavra mais autorizada e mais solene do magistério do Papa. Não é uma Exortação Apostólica nem um “Motu Proprio” ou um discurso de ocasião. É um pronunciamento oficial, esperado por todo o mundo. Olhando para as grandes encíclicas do passado, vemos que elas não têm apenas uma repercussão imediata, mas vão produzindo frutos no longo prazo, à medida que vão se clareando os fundamentos sobre os quais está construída. Nesta Encíclica, o papa faz questão de dizer, ele não fala apenas ao mundo católico, ou aos homens de boa vontade, como fez João XXIII mas, explicitamente, se dirige a todas as pessoas do mundo. A oportunidade não poderia ser melhor: há uma série de eventos programados em nível de governantes, ainda este ano. É notório que esses encontros de cúpula, até aqui, quase sempre esbarram em interesses econômicos e vetos dos poderosos, que inviabilizam as soluções apresentadas. O Papa quer falar aos ouvidos dessa gente: não há solução técnica, nem motivação científica que resolva o problema, se não passar pela questão da justiça para com os mais pobres. Para Francisco, o problema do clima e do meio ambiente tem a mesma origem do problema da miséria e da pobreza: ambos têm que ser resolvidos em conjunto, com coragem e responsabilidade perante as próximas gerações.
A segunda razão, que gera muita esperança, diz respeito à pessoa do Papa Francisco. Seu carisma, palavras e gestos proféticos, seu espírito aberto e inclusivo, abre o coração mais endurecido. Não há liderança, no mundo hoje, capaz de falar a todas as classes sociais, a todas as etnias, a todas as tradições religiosas e convocar a todos os seres humanos, a não ser o Papa Francisco. Seu estilo simples e direto não é incomum nos documentos da Igreja. Francisco é quase coloquial. Pode ser bem compreendido pela gente mais simples, porém surpreende também os letrados. Com o tema da ecologia, ele entra em outros campos, fala da pobreza, da moradia, dos transportes, da educação, do lixo e da corrupção,e vai da fé até a política e economia, mostrando que tudo se relaciona com tudo. Assinada pelo Papa Francisco, a Carta Encíclica Laudato Si’, de fato, surpreende a todos.
Por último, quero lembrar a referencia a São Francisco de Assis, que está no título, no nome do autor e na alma desta Encíclica. É um texto absolutamente franciscano. Lembra a “Carta aos Fiéis” em que o Santo de Assis se dirige “a todos os que moram no mundo universo”: o imenso desejo de São Francisco de chegar ao coração de todos, para que olhassem e reverenciassem o Criador, está presente no coração do Papa. E, com toda a certeza, mesmo utilizando os argumentos mais laicos, Francisco leva a todos a contemplar o mundo não com os olhos frios da ciência, nem com os olhos ávidos do lucro, mas com o coração de irmãos. Maravilhar-se com as criaturas, chamar as criaturas de irmãos e irmãs não tem nada de romantismo irracional, diz o Papa, mas tem consequências sobre as escolhas que fazemos.
Muito mais se poderá ler nas quase 200 páginas, verdadeira cachoeira de água límpida, despejada por Francisco na imundície em que se tornou o mundo depauperado pela ganância e pela cultura da morte. Com a Laudato Si’ O Papa fala ao mundo que está colocando a sua Igreja, mais uma vez, “em saída” para curar as feridas e as fragilidades de um mundo enfermo. Fazer-nos a todos, franciscanos ou não, missionários de uma nova humanidade, recriada à luz da sabedoria divina, é o que podemos esperar deste grande presente que nos oferece o Papa Francisco.
Dom João Bosco – Bispo de Osasco – SP
Foto em destaque: News.va Español