Jovens católicos de Carapicuíba realizam ação evangelizadora e de caridade com moradores de rua daquela cidade
São cinco horas da manhã de um sábado frio e com uma pequena neblina. A cidade, aos poucos, começa a acordar e o movimento de indivíduos e veículos vai se iniciando. Nos aproximamos de cinco pessoas, em situações precárias, dormindo em meio a um chão gélido da frente de uma loja com alpendre, cobertos apenas com panos que lhes foram doados. Mas para nós não se tratam apenas de cinco simples pessoas, são “bençãos” especiais para nossas vidas.
“Boa noite”, aliás, já era “bom dia”. Num primeiro momento, a expressão é de espanto e medo. O jovem rapaz magrelo nos olha com um ar de apreensão, logo falamos: “desculpa lhe acordar, viemos trazer um ‘café’ pra vocês”. No mesmo instante a superfície muda, um sorriso surge na sua face marcada pelas durezas da rua. Ele chama os demais companheiros e aos poucos vão acordando e se alegrando, pois naquele dia tinham garantido o que comer logo cedo.
Companheirismo talvez seja uma palavra que expresse bem essas “bençãos”. Já que quem nos avisou desses cinco que ali estavam, tinha sido duas mulheres naquela mesma situação, mas que vagavam pelas ruas sem rumo. “Que susto”. Foi o que aquelas mulheres disseram ao ver vários jovens se aproximando delas. Mas, mais uma vez, a tranquilidade pairou sobre aqueles corações ao perceberem que se tratavam de pessoas caridosas que levavam um “café” para elas.
Mas esse não foi o início de tudo. Após uma noite de muita oração, damos nossa resposta para a missão: “Eis-me aqui Senhor”. E logo no primeiro encontro com o Cristo crucificado, o Cristo vivo em almas sedentas de compaixão, um anjo da rua nos impulsiona. “Vocês são batalhão de Deus”, é o que proclama o senhor Manuel, com seu sapato engraxado e meias social até o meio da canela, e que ao sairmos veemente repete: “batalhão de Deus, vão em frente”.
No Parque dos Paturi nos encontramos com mais um grupo de bençãos, entre elas a Carol. Há três anos se deparou com uma pedra no meio do caminho, infelizmente era o crack. Tento conversar com ela, parece não me ouvir, não me olha. Em forma de respeito, me afasto daquele coração duro por uma pedra. Eu olho novamente para ela. Com um olhar penetrante ela estende a mão e me chama. “Quero mais um pão”. Vejo a fome abrir um diálogo, um gesto de abertura, mas que se resume a um: “ainda tem chocolate?”.
O dia já raiou, assim como a esperança nasceu. Pois como esquecer daquele que nos anunciou o Salvador. João Batista clama nas ruas pedindo por socorro. “Quero ir agora”. E assim parte para uma casa de acolhida, acreditando na Ressurreição.
Vamos dar às mãos e rezar. Em meio à clicks das fotos que tirava, olho para os lábios negros e queimados da Carol, vejo sua boca balbuciar poucas palavras. É a oração que nos une. Em ambientes desprovidos de qualquer educação, muito menos de uma catequese, algo nos tornou mais irmão, a oração que o próprio Pai nos ensinou. E a maioria rezava: Pai nosso… Na crença de um Pai que é de todos e de que um dia terão um “pão” que será de todos, que será nosso.
Na madrugada do sábado, 15, grupos de jovens e outros movimentos religiosos de várias paróquias de Carapicuíba realizavam trabalhos de evangelização e também de misericórdia com os moradores de ruas de alguns bairro daquele município. Levando para aquelas pessoas um conforto para alma e também para as necessidades físicas, distribuindo um “café da manhã”.
Por Rômullo Dawid - Pascom Pedro e Paulo